Presidente João Lourenço
Dinheiro Vivo 25 Setembro 2018 — 10:31
No balanço do primeiro ano do Presidente angolano João Lourenço, a Associação dos Industriais de Angola olha para o futuro confiante e com reserva.
O presidente da Associação dos Industriais de Angola (AIA), José Severino, advertiu esta terça-feira para a “situação económica e social” angolana atual, mesmo fazendo um balanço positivo do primeiro ano de liderança de João Lourenço, enquanto chefe de Estado. “É um ano cheio de boas surpresas, na medida em que o país vinha de um processo que nós sempre contestamos”, o que leva os industriais a ver “com agrado, esta mudança de 180 graus”, disse Severino, em declarações à agência Lusa, a propósito do primeiro ano de mandato de João Lourenço, empossado a 26 de setembro de 2017 como terceiro Presidente da República de Angola.
Preferindo não comentar o passado, por entender que não lhe “cabe fazer qualquer comentário adicional”, o porta-voz dos empresários e industriais angolanos elogiou, antes, o “combate à impunidade, corrupção, falta de transparência e abuso sobre os recursos do Estado” no último ano.
Severino olha para o futuro com confiança, mas com alguma reserva, face à situação económica e social. “O que estamos a ver neste primeiro ano é de facto uma luz verde para esperança de abertura, para pormos o país no caminho certo, com um ‘senão’, que é a situação económica e social do país”, disse.
Para melhorar essa situação, José Severino acredita que é “preciso uma atenção mais arguta, mais perspicaz, mais ativa na questão da economia real”, caracterizando como “mau” o momento que as empresas estão a passar.
“É preciso fazer um aumento da oferta interna”, disse, acrescentando que “os preços estão muito exponenciados, e os salários, numa tónica de combate à inflação, estão congelados”.
Severino teme que a situação possa levar a que Angola entre num ciclo vicioso: “Isto preocupa-nos porque as empresas estão a vender pouco. Vendendo pouco, reduzem as horas de trabalho; reduzindo horas de trabalho é dispensada força de trabalho. E é menos imposto que as empresas pagam. Os rendimentos do Estado não sobem, porque falta tributação, e o Estado não pode aumentar os salários da função pública e órgãos de defesa e origem interna”.
Para que isso aconteça, o responsável referiu a existência de reuniões entre a AIA e o Governo.
“Houve uma reunião com o Ministério da Economia onde nos foram pedidas propostas para reacelerar aquilo que é a economia real, a oferta interna”, constatou Severino.
Em concreto, o presidente da AIA apelou ao Executivo que alivie as taxas aplicadas.
“As empresas estão a ser penalizadas, de certa maneira, imoralmente, com multas que não conseguem suportar. Não podemos matar a galinha de ovos de ouro do tesouro, que são as empresas, que são os contribuintes porque os cidadãos precisam das empresas. Quer em termos de salários, quer em termos de segurança social”.
Severino adverte ainda que se o crescimento económico não acompanhar o crescimento demográfico, como tem vindo a acontecer, a situação em Angola só vai piorar.
“Há crescimento demográfico (…) de 3%, e se não crescermos a mais de 3%, a situação de pobreza que estamos a viver dificilmente será ultrapassada”, sublinhou.
Para este ano, o Governo angolano prevê um crescimento económico de pouco mais de 2%, face a 2017.
João Lourenço foi eleito chefe de Estado de Angola nas eleições gerais de 23 de agosto de 2017, tendo sido empossado a 26 de setembro do mesmo ano.
Tornou-se o terceiro Presidente de Angola desde a independência do país, em 1975, sucedendo a António Agostinho Neto (1975/1979) e José Eduardo dos Santos (1979/2017).