EDITORIAL
Diogo Queiroz de Andrade
10 de Maio de 2018, 6:50
A única hipótese de manter vivo o acordo nuclear com o Irão é garantir que os europeus compensam o vazio americano.
A única maneira de manter o acordo iraniano vivo é uma intervenção rápida da União Europeia, que se represente na esfera diplomática mas cujo impacto tem de ser financeiro.
A única hipótese de manter este acordo vivo é garantir que os europeus compensam o vazio americano.
Mas o custo vai ser alto e não é garantido que os europeus aguentem as três alíneas da factura: o aumento imediato do preço do petróleo, de que a Europa é altamente dependente; a cobertura da parte americana do acordo com o Irão, que é considerável; e a terceira, provavelmente insustentável para as empresas europeias, que consiste nas sanções americanas a empresas que façam negócios com o Irão.
Mais uma vez se coloca sobre Bruxelas pressão para pensar a coesão e a presença do bloco europeu num cenário global, onde é preciso ter um exército capaz para que a voz seja escutada.
E com os aliados da NATO a mostrar retóricas muito diferentes, começa a ser óbvio que os interesses europeus no mundo só poderão ser devidamente defendidos pelos europeus.
Bruxelas vai tentar um novo acordo, acordo esse que só será assinado pelos EUA se Teerão ceder mais.
Mas isso está longe de ser um dado adquirido.
Esta acção americana vai fortalecer a ala dura do regime iraniano, que poderá não estar pelos ajustes e decidir pura e simplesmente retomar o plano de capacitação nuclear – que, como se viu no caso da Coreia do Norte, é mais fácil de atingir do que se julgava.
Até porque o Irão de hoje já não é o de 2015, tendo ganho maior relevância na Síria e no Líbano e estreitado relações com russos e chineses.
A forma como Washington cedeu ao fascismo saudita e israelita representa bem o mecanismo como se exerce o poder hoje na capital americana: aos repelões, sem sentido de continuidade nem lógica.
E se em tempos o Departamento de Estado era conhecido pela qualidade da sua elite, hoje é reconhecido pelo percurso errático que é gerido em função do umbigo e sem consideração pela História.
Isto demonstra que, no clima crispado que são os EUA do século XXI, a palavra do Presidente vale pouco menos que zero – uns meros meses ou anos até chegar um sucessor e tudo se altera.
Para a Casa Branca, tudo é curto prazo e uma assinatura num tratado internacional vale o mesmo que um tweet.
Isto ajuda a explicar a erosão americana no mundo e, por efeito inverso, a emergência da China no panorama global, nação que considera cem anos como curto prazo e que raramente tem pressa para agir.
E que, não por acaso, sairá a ganhar de toda esta crise com o Irão.
dqandrade@público.pt
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