JOÃO RUELA RIBEIRO e CLARA BARATA
28/04/2016 - 12:37 (actualizado às 19:13)
Morreram cerca de 200 pessoas em seis dias e hospital dos Médicos Sem Fronteiras foi atingido.
Enviado da ONU fala na "catastrófica deterioração da situação nas últimas 24-48 horas".
O Hospital Al-Quds tinha quatro médicos e 28 enfermeiros.
Era uma estrutura fundamental na massacrada cidade de Alepo, no Norte da Síria.
O exército de Bashar Al-Assad nega que o tenha escolhido como alvo, mas EUA e ONU dizem não não acreditar que tenha sido atingido por erro.
Morreram pelo menos 27 pessoas, entre os quais pessoal médico..
Multiplicam-se os apelos a que o cessar-fogo que entrou em vigor a 27 de Fevereiro continue em vigor multiplicam-se, apesar de as negociações de paz sob a égide das Nações Unidas, em Genebra, se mostrarem infrutíferas.
O maior obstáculo a um entendimento é precisamente o futuro do Presidente Assad.
Mas para os habitantes de Alepo, no Norte da Síria, o cessar-fogo decretado há dois meses na Síria está morto e enterrado, com a intensificação dos bombardeamentos.
Desde 22 de Abril já morreram cerca de 200 pessoas e várias centenas ficaram feridas em ataques quase diários pelo Exército sírio, relata o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização com sede em Londres e informadores no terreno, citado pela AFP.
Jan Egeland, o chefe da missão de assistência humanitária da ONU na Síria, diz que “houve uma deterioração catastrófica da situação nas últimas 24-48 horas”, em Alepo e também em algumas zonas de Homs, mais a Sul, em direcção à fronteira com o Líbano.
"Não há dúvidas sobre a gravidade da situação", acrescentou.
O bombardeamento ao hospital Al-Quds, apoiado pelos Médicos Sem Fronteiras, destruiu uma estrutura vital na cidade de Alepo.
"Este ataque devastador destruiu o principal centro de referência para os cuidados pediátricos na área", disse a chefe da missão dos MSF na Síria, Muskilda Zancada.
Ali trabalhavam oito médicos e 28 enfermeiros a tempo inteiro.
Neste momento, há apenas uma estrada para entrar e sair da zona não-governamental, aumentando o risco de cerco, avisa a organização.
O Departamento de Estado norte-americano sublinha que apenas o regime sírio esteve envolvido no bombardeamento ao hospital, e a Casa Branca, através do seu porta-voz, diz estar “particularmente chocada” e pede à Rússia que “influencie” Damasco para evitar estes ataques “repreensíveis”.
Moscovo assegura que não foram os seus aviões a bombardear o hospital.
Alepo tem sido o centro de uma escalada militar que levou ao colapso das negociações de paz nas últimas semanas.
Os raides aéreos na madrugada de quinta-feira são vistos como o prelúdio para uma grande ofensiva governamental para tomar a cidade.
Um dos principais jornais pró-regime, o Al-Watan, defendeu em editorial o lançamento da “batalha pela libertação completa” de Alepo.
A oposição armada controla o Leste, mas está cercada pelas forças governamentais e a única ligação ao resto da cidade é feita por um corredor estreito, explica o The Guardian.
Nervosismo de Damasco
Mas Damasco dá sinais de nervosismo, ao denunciar a chegada de 150 militares norte-americanos ao Nordeste da Síria, uma zona controlada pela milícia curda YPG, que considerou uma “agressão óbvia”.
Para agravar a situação, tem havido grandes combates a Norte de Alepo entre guerrilheiros apoiados pelos Estados Unidos e outros grupos rebeldes avança o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
A aliança das Forças Democráticas da Síria, que inclui a milícia curda YPG, a mais eficaz aliada norte-americana, tem lutado contra grupos apoiados que também são apoiados por países estrangeiros através da Turquia.
Nos mais recentes combates, na quarta-feira, nas aldeias de Ain Doqneh e al-Bayluniya, a cerca de 15 km da fronteira com a Turquia, morreram pelo menos 11 guerrilheiros das Forças Democráticas da Síria e 53 de outros grupos, diz a Reuters, citando o observatório.
Estes grupos lançaram um ataque para tentar recuperar território aos combatentes apoiados pelos EUA – com o apoio implícito de Ancara, que não gosta de ver os guerrilheiros curdos a aproximarem-se da sua fronteira, por receio de que o território para todos os efeitos independente que criaram no Nordeste da Síria se alargue até ao seu Sudeste, onde a maioria da população é curda.
Perante este complicado cenário, não é de admirar que a terceira ronda de negociações de paz tenha terminado quarta-feira sem progressos, depois de os principais representantes da oposição se terem afastado, em protesto contra a degradação da situação humanitária e as violações da trégua.
A Rússia propôs ainda que o Conselho de Segurança da ONU ponha na lista negra das organizações terroristas dois grupos rebeldes sírios, o Jaish al-Islam e o Ahrar al-Sham, acusando-os de terem ligações à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico.
Se nenhum membro do Conselho de Segurança se opuser até às 19h TMG de 11 de Maio, estas formações serão adicionadas à lista de sanções, disse uma pouco satisfeita fonte diplomática à Reuters.
Este passo “não ajuda nada. Está apenas a tentar dividir a oposição”.
Sem comentários:
Enviar um comentário