quarta-feira, 29 de junho de 2016

Presidente PS acusa Schäuble de “arrogância persistente”

Ajuda Externa Dinheiro Vivo/Lusa 29.06.2016 / 17:23
Carlos César

O ministro das Finanças alemão agitou as águas em torno de Portugal ao dizer que o país ia precisar de outro resgate se não cumprisse as regras.

O presidente do PS criticou hoje as declarações contraditórias proferidas pelo ministro das Finanças alemão sobre um eventual segundo resgate a Portugal, considerando que são causa da existência de cada vez mais europeus contra essa “arrogância persistente”. 

Carlos César assumiu esta posição à agência Lusa, depois de confrontado com o facto de Wolfgang Schäuble, numa primeira notícia da Reuters, ter dito que Portugal iria pedir um segundo resgate, para depois se corrigir que o ministro das Finanças germânico apenas dizia que o país vai precisar de novo resgate se não cumprir as regras europeias. 

O presidente do Grupo Parlamentar do PS não quis comentar a posição do ministro das Finanças da Alemanha do ponto de vista político ou financeiro, mas deixou o seguinte reparo: “Como se percebe, nem o próprio Wolfgang Schäuble percebeu o que disse e do que falava”. 

“É por estas e por outras que, infelizmente, há cada vez mais cidadãos europeus que se revelam contra essa arrogância persistente e insensata”, acrescentou Carlos César. 

O ministério das Finanças já reagiu a desmentir o ministro alemão, garantindo que não há novo resgate.

Centeno responde a Schäuble: Não haverá novo resgate

Resgate Dinheiro Vivo 29.06.2016 / 17:13 
Mário Centeno, ministro das Finanças. Fotografia: MÁRIO CRUZ/LUSA

Ministério das Finanças reage às declarações do homólogo alemão que afirmou hoje que Portugal precisaria de um novo programa de resgate


O Ministério das Finanças reagiu de forma célere às declarações de Wolfgang Schäuble, esclarecendo que “não está em consideração qualquer novo plano de ajuda financeira a Portugal”. 
O governante alemão afirmou hoje que Portugal precisaria de pedir um novo programa de ajustamento e que Lisboa teria sucesso em conseguir esse novo resgate. 

“Tendo em conta as declarações do Ministro alemão das finanças, Wolfgang Schäuble, e ainda que tendo sido imediatamente corrigidas pelo próprio, o Ministério das Finanças esclarece que não está em consideração qualquer novo plano de ajuda financeira a Portugal, ao contrário do que o governante alemão inicialmente terá dito”, assegura a tutela. 

Também Carlos César, presidente do PS, reagiu de forma rápida, salientando a correção feita pelo próprio alemão à “boca” enviada a Portugal. 
Mas César deixou uma crítica: “É por estas e por outras que, infelizmente, há cada vez mais cidadãos europeus que se revelam contra essa arrogância persistente e insensata.” 

“Portugal irá cometer um enorme erro se não cumprir o que foi acordado”, afirmou Schäuble esta tarde num evento em Paris. 
Citado pela Reuters, o ministro das Finanças explicou que “eles [os portugueses] não o querem [um novo pacote de resgate] e não precisam dele se cumprirem as regras e os compromissos europeus”. 

As Finanças, no comunicado, garantem que o “o governo continua e continuará focado no cumprimento das metas estabelecidas para retirar Portugal do Procedimento por Défices Excessivos. 
O mais recente sinal disso são os dados da execução orçamental conhecidos até ao momento”. 

Recordando o “atual momento que a Europa atravessa”, o executivo português garante que “continuará a trabalhar com a serenidade e a responsabilidade que o projeto europeu exige”.

Schäuble prepara plano para “nova UE”, incluindo poder de veto sobre orçamentos

União Europeia - Filipe Paiva Cardoso 28.06.2016 / 19:08



Wolfgang Schäuble. Foto: DPA / UWE Anspach

Entre as medidas encontra-se o poder de veto sobre orçamentos nacionais que violem regras e a monitorização das políticas por entidades independentes


O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, já elaborou o plano para a criação de uma “Nova União Europeia”, em resposta à decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia. 

De acordo com jornal económico alemão “Handesblatt”, o plano desenhado pelo todo-poderoso ministro de Angela Merkel apresenta “planos concretos” para a reforma da União Europeia, incluindo a monitorização por uma entidade independente de todas as políticas orçamentais implementadas por cada Estado-Membro, ao invés da monitorização ser feita por um membro da Comissão Europeia. 

Com o título de “Iniciativas posteriores ao referendo do Reino Unido”, o plano alemão para a UE passa pela implementação de várias medidas, “incluindo a possibilidade de vetar orçamentos nacionais que violem as regras de estabilidade e dívida”, aponta o “Handesblatt”, que consultou o documento. 

Além da monitorização das políticas públicas de cada país por uma entidade independente e do poder de veto sobre os orçamentos de cada país quando a UE entender que podem violar as regras comunitárias, o jornal alemão aponta igualmente que as reformas idealizadas por Schäuble incluem ainda a separação da autoridade de supervisão bancária da esfera do Banco Central Europeu e o reforço dos poderes do Mecanismo Europeu de Estabilização, na zona euro. 

O “Handesblatt” promete avançar esta quarta-feira com todos os detalhes sobre o plano do ministro das Finanças alemão para uma Nova União Europeia.




Schäuble corrige: Portugal não precisa de resgate se cumprir regras

Portugal Dinheiro Vivo 29.06.2016 / 15:54  
Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão. Fotografia: Ralph Orlowski / Reuters

Ministro das Finanças alemão chegou a afirmar que Portugal devia pedir novo programa de ajuda. Mas corrigiu a declaração


O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, começou por afirmar hoje que Portugal precisaria de pedir um novo programa de ajustamento e que Lisboa teria sucesso em conseguir esse novo resgate. 

No entanto, o responsável voltou atrás nas suas palavras e disse que o país não precisa de um novo programa de resgate se cumprir as regras e os compromissos europeus. 

Quer a notícia a dar conta de que o ministro alemão teria afirmado que Portugal precisaria de um novo resgate, quer a correção da sua afirmação foram ambas avançadas pela agência Reuters. 

“Portugal irá cometer um enorme erro se não cumprir o que foi acordado”, afirmou Schäuble num evento em Paris. 
Citado pela Reuters, o ministro das Finanças explicou que “eles [os portugueses] não o querem [um novo pacote de resgate] e não precisam dele se cumprir as regras e os compromissos europeus”. 

Quanto ao possível efeito dominó provocado pelo Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, o responsável afirmou que o perigo desse efeito “não deve, certamente, ser descartado”. 
“Seria justo que eles [Reino Unido] se decidissem num futuro próximo”, acrescentou. 

“Mas é claro que faremos tudo o que for necessário para garantir que o impacto negativo e os perigos desta decisão não se tornem ainda maiores”, garantiu Schäuble.

sábado, 25 de junho de 2016

O que Brexit significa para o mundo

Análise
25 de junho de 2016 | 13:19 GMT
Os mercados globais reagiram duramente à votação da Grã-Bretanha 23 de junho para deixar a União Europeia, mas as implicações de longo prazo do trecho de decisão para além de considerações de ordem económica. (THOMAS LOHNES / Getty Images)Análise


Nas próximas semanas, o frenesi dos mercados financeiros vão dominar a atenção do mundo. Mas o que está para além do horizonte em um mundo pós-Brexit? Stratfor destaca as áreas do mundo que serão mais afetadas pela última fase de fragmentação da União Europeia.



















































Desvendando a Europa

O Reino Unido será bloqueado em turbulência política.
O primeiro-ministro David Cameron anunciou que vai renunciar em outubro, deixando seu partido conservador de nomear um sucessor para iniciar formalmente as negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.
Naturalmente, a economia britânica terá um sucesso como os mercados libra e ações oscilam, como capital foge e como as empresas mudar para a Europa continental.
Discussão renovada de secessão na Escócia criará ainda uma outra fonte de incerteza política.
Se o Reino Unido perde o acesso ao mercado comum europeu, os seus principais parceiros comerciais na União Europeia - a Irlanda, os Países Baixos e a Bélgica - vão sofrer.
Consequentemente, eles vão trabalhar para acelerar um acordo de comércio livre entre Bruxelas e Londres. A estabilidade dos Tories dominantes precisa ser monitorado de perto.
Caso o partido  não chegarem a acordo sobre um substituto para Cameron, eleições antecipadas poderiam ser acionadas, e então o clima em Brexit poderia mudar, dependendo da gravidade da dor econômica.

Caberá à França e à Alemanha para acalmar os nervos e enquadre a volatilidade financeira como um argumento para a integração.
Mas as chamadas para a unidade europeia desmente a profunda divisão no bloco continental.
Seus principais membros têm fundamentalmente diferentes ideias sobre a forma de gerir a zona do euro, e as discrepâncias vão crescer mais gritante como forças Euroskeptic em França e na Alemanha perseverar, usando o referendo britânico como sua principal ferramenta para repatriar os direitos de Bruxelas.
Sem o Reino Unido para equilibrar as suas diferenças, França e Alemanha se tornarão mais polarizadas, que gradualmente erodir a fundação da União Europeia.

A periferia da zona do euro virá sob o fogo mais uma vez, testando a promessa do Banco Central Europeu a fazer "o que for preciso" para proteger a área da moeda. Na Itália, Espanha, Grécia e Portugal, a instabilidade política e incerteza financeira podem conspirar para inibir recuperações econômicas já sem brilho. A desvalorização da  libra _, por outro lado, vai fazer férias na zona do euro mais cara e vai cortar em receitas do turismo crítico no Sul da Europa.

Depois de ter perdido um importante aliado fora da zona euro, os países da Europa Central e do Leste como a Polónia e a Hungria e os países do Norte da Europa, como a Dinamarca e a Suécia e continuará a distanciar-se do núcleo da União Europeia, por exemplo, rejeitando a política da UE ou a renegociação dos termos da união.

Recuperação de Petróleo interrompida?

Caso o Brexit desencadear uma recessão na Europa, a procura pelo petróleo no segundo maior mercado mundial de petróleo vai cair ainda mais. O declínio iria reverberar em mais rápido crescimento mercados de petróleo do mundo, a Índia e a China, devido a menor procura britânica significaria procura afrouxada por petróleo global, prolongando a recuperação global do preço do petróleo.
Se os preços estavam a cair muito abaixo de US $ 30 por barril, a Arábia Saudita e outros membros do Conselho de Cooperação do Golfo reconsiderarão cortes de produção ou congelamentos.
Se os preços continuam confortavelmente acima de US $ 40 por barril, por outro lado, eles poderiam continuar com sua estratégia atual, mantendo participação de mercado e esperando uma correção de preços. os preços do petróleo mais fracos acabará por prejudicar a receita, atingindo moedas dos exportadores de petróleo ainda mais e forçando-os a recorrer às reservas, manter a austeridade e emitir mais dívida do que o esperada.

Uma questão muito mais complicada é a relação futura de energia entre a União Europeia e o Reino Unido, que ainda é uma parte integrante do mercado de energia da UE.
Decidir se o Reino Unido vai ficar na Comunidade Europeia da Energia, que harmoniza as políticas energéticas de Bruxelas com os dos países vizinhos, como a Ucrânia, será uma área-chave de negociação daqui para frente.
Remanescente iria pagar a Grã-Bretanha a vantagem de acesso contínuo ao mercado europeu comum de energia.
A medida pode ser uma venda política difícil para os cidadãos britânicos, no entanto, uma vez que novamente se render certos poderes de formulação de políticas de energia a Bruxelas - algo que os adeptos Brexit se oporiam.

Curto e longo prazo Batalhas da China

Embora o yuan sofreu no rescaldo do referendo, o banco central da China tem as ferramentas à sua disposição para mitigar as consequências.
Na verdade, a súbita desvalorização do yuan - acontecendo pela primeira vez sem o escrutínio dos mercados globais - poderia até ser considerado uma bênção disfarçada, aliviando as pressões sobre a moeda.
Mesmo assim, o Banco Popular da China terá de enfrentar a pressão continuou a limitar a depreciação, e ele provavelmente irá gerir maiores efeitos colaterais Brexit com medidas como cortes coeficiente de reservas obrigatórias.

O impacto a longo prazo poderia ser muito mais profundo.
Mercados europeus, incluindo o Reino Unido, são responsáveis por 15,6 por cento substancial do total das exportações da China.
Se o Brexit provoca uma recessão que se espalha a partir do Reino Unido para a Europa continental, o pedágio para os exportadores da China vai agravar a dor considerável que eles já experimentaram nos últimos anos.

Além disso, a saída do Reino Unido da União Europeia poderia complicar os esforços de Pequim para a reforma financeira e económica estrutural.
Enquanto Pequim tenta gerir o efeito boomerangue Brexit, pode atrasar medidas internacionalmente focadas para liberalizar seu setor financeiro.
Por outro lado, se maior incerteza política prejudica a libra e o euro como moeda de reserva internacional confiável, a China pode aproveitar a oportunidade para apresentar o yuan como uma alternativa atraente.
No longo prazo, no entanto, o abrandamento do crescimento das exportações somente favorecer ainda mais os mecanismos de liberalização e outras reformas estruturais para aumentar a eficiência das empresas estatais e apoiar o desenvolvimento do sector privado.
Pequim vai continuar a fazer progresso gradual na resolução desses problemas, usando a estabilidade social interna para determinar a quantidade de liberalização para conduzir e com que rapidez.

Política Monetária embotamento no Japão

Enquanto isso, o Japão tem o problema oposto.
Já, o iene saltou como fluxos financeiros cabeça para ativos mais seguros.
Mas o iene mais forte complica Abenomics, o plano de reforma econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe.
Mesmo sem o Brexit, o Banco do Japão tem tido dificuldades gerando inflação e enfraquecer o iene através de políticas monetárias agressivas.
Agora, o banco pode não ter escolha a não ser continuar sua expansão monetária, mas o efeito embotamento da política monetária, combinada com um iene mais forte, continuará a impedir o crescimento do Japão.
Além disso, as moedas dos principais parceiros comerciais do Japão, como a China, têm enfraquecido em relação ao dólar, com o iene subiu.
ainda sentir os efeitos, ainda que de segunda mão, do tumulto lá.

Dado que a exposição comércio direto do Japão para a Europa é menor que o da China - 10,6 por cento do total das exportações e 3,3 por cento do seu produto interno bruto - ele irá enfrentar menos risco comercial de uma recessão no Reino Unido e da União Europeia.
Mas desde que o Japão é instrumental para cadeias asiáticas de abastecimento que funcionam através de centros de manufatura asiática chineses e outros que conduzem finalmente aos mercados consumidores na Europa, ainda vai sentir os efeitos, ainda que de segunda mão, do tumulto lá.

Como os efeitos das políticas monetárias Abenomics 'enfraquecer, o Partido Democrático Liberal pode adotar meios não convencionais para enfrentar os problemas econômicos do Japão.
Por enquanto, os adversários de Abe estão profundamente divididos, por isso, se houver, vai ser uma mudança, ele vai cair para o próprio Partido Democrata Liberala conceber uma alternativa para Abenomics.
Duas coisas a serem observadas são a quantidade de conglomerados japoneses, como Toyota, Nissan, SoftBank e Mitsubishi estão sob pressão económica como resultado da Brexit e como a nova geração de líderes empresariais japoneses ao longo do tempo romper as barreiras políticas para avançar reformas estruturais.

ASEAN repensa Integração

Para os países do Sudeste Asiático com cadeia de fornecimento substancial e exposição ao comércio directo aos mercados britânicos e europeus (por exemplo, Malásia, Tailândia e Vietname), a recessão na Europa teria consequências significativas.
Como a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) observa a desvendar União Europeia, o bloco pode repensar alguns de seus planos de integração mais ambiciosos.
Uma dinâmica semelhante poderia jogar fora entre o Conselho de Cooperação do Golfo, a Comunidade do Leste Africano e da Comunidade Económica da Eurásia.

Rússia pode prosperar na Divisão Europeia

O Brexit desempenha nas mãos dos líderes da Rússia, que gostariam de ver as forças Euroscépticas ganho tração.
A Europa mais dividida politicamente representa, mais espaço de negociação Rússia terá com os seus vizinhos ocidentais.
Uma Europa dividida também apresentará uma resposta menos coerente a agressão russa.
A Rússia já aceitou que as sanções europeias contra ela será estendido em breve, mas poderia ter uma melhor chance de quebrar a unidade da UE sobre a questão até o final do ano.
No geral, como a União Europeia torna-se mais preocupados com suas divisões internas, o Continente vai deprioritizar outras questões, como a crise na Ucrânia, Nagorno-Karabakh e sanções.

O comércio entre a Rússia e o Reino Unido é marginal, mas a Rússia vai se preocupar com o efeito de longo prazo que uma desaceleração da economia europeia teria sobre os mercados e volatilidade financeira que afetariam o rublo.
As elites do Kremlin já estão divididos sobre como lidar com a atual crise russa económica e relações externas, e uma crise econômica na Europa, que coloca ainda mais pressão sobre a economia russa vai aprofundar esse debate.
A Rússia vai ser afetada se a Europa se torne mais baixa sobre o investimento estrangeiro em uma recessão económica piorou, mas Moscovo também tem trabalhado para isolar-se financeiramente e economicamente nos últimos dois anos para lidar com laços mais fracos com a Europa.
Rússia será conduzida para impulsionar o comércio de energia e os laços económicos globais com a China e no Japão, uma vez que parece leste para compensar ficando interesse no oeste.

Moscovo, que há muito tempo visto Londres como uma extensão da política externa de Washington, tem temperado seus sentimentos anti-britânicos, enquanto a Grã-Bretanha tem sido uma parte da União Europeia.
Mas um Brexit poderia abrir o caminho para as relações ainda mais frias entre o Reino Unido e Rússia.
Isso pode afetar os oligarcas russos, muitos dos quais mantêm casas em Londres e listam suas empresas russas na London Stock Exchange.
Os oligarcas ainda são cruciais para o Estado russo financeiramente, os russos tão comuns que trabalham para as empresas grandes oligarcas ou vivem em "monocities" das oligarquias uma única indústria também poderia ser afetada.

Transatlântica Parceiros suporte junto

O próximo presidente EUA herdará as consequências da Brexit e terá que decidir como navegar a evolução do relacionamento entre a União Europeia e o Reino Unido.
Ao mesmo tempo, Londres vai pressionar por um acordo de livre comércio com os Estados Unidos como uma maneira de garantir um mercado de grande importância para as suas exportações.
Globalmente, as ofertas comerciais mais bilaterais são susceptíveis de ser forjada como acordos de comércio multilateral maiores e mais ambiciosas deparam com problemas.
Embora a economia EUA permanece relativamente robusta e isolada do ponto de vista comercial, vai no entanto ser afectado por uma desaceleração potencial na Europa através de ligações financeiras.

A incerteza financeira desencadeada pela Brexit provavelmente tem assegurado que o Federal Reserve EUA vai adiar a subida das taxas de juro para o período remanescente do ano, empurrando seu próximo aumento da taxa em pelo menos 2.017, dependendo do estado da economia global.
Na verdade, os mercados estão factoring em uma crescente probabilidade de uma taxa de interesse cortada até o final do ano.
Um vôo para paraísos financeiros irá impulsionar o dólar e o friso exportações.

Turquia regateia duro com a UE

Para a Turquia, que durante décadas tem vindo a tentar entrar na União Europeia, há uma pitada de ironia na saída do Reino Unido do bloco.
Os membros da UE se reunirão 30 de junho para discutir acelerar a adesão da Turquia.
Este é um pouco inútil, no entanto, e a Turquia sabe disso.
Enquanto o fluxo de migrantes para a Europa continua a atiçar as chamas do islamofobia, o governo de Ancara pode continuar a negociar com Bruxelas para as concessões, como a finalização de um acordo sobre a liberalização dos vistos.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que a Turquia não vai entrar na União Europeia por mais 1.000 anos - e ele provavelmente está certo, assumindo o bloco sobrevive tanto tempo.
A União Europeia, por seu lado, irá manter as negociações vivas para sustentar o negócio migrante, mas não irá exercer tudo o que muito esforço para trazer a Turquia em suas fileiras. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan está pronto para girar a rejeição inevitável de seu país, dizendo que ele vai chamar o seu próprio referendo para os turcos para decidir se eles ainda querem fazer parte do bloco de todo.
E assim, com a União Europeia preocupada com a sua desintegração e com a Turquia preocupada com o mundo islâmico, as negociações de adesão será superficial na melhor das hipóteses.
Ankara vai concentrar a sua energia em vez de manter os laços comerciais e de segurança com os europeus.

O Brexit vai sacudir a moeda da Turquia, a lira, pelo menos para o curto prazo.
Mas a longo prazo preocupação é o potencial para a União Europeia a cair novamente em recessão e fazer um outro corte profundo nos mercados de exportação da Turquia.
A União Europeia é o maior parceiro comercial da Turquia, e o Reino Unido representa o segundo maior destinatário das mercadorias turcas depois da Alemanha.
Cerca de 7 por cento das exportações da Turquia ir para o Reino Unido, e quase 45 por cento do total das suas exportações vão para a União Europeia.
Preços mais baixos do petróleo ajudou a Turquia gerenciar seu déficit este ano, permitindo que o banco central para fazer quatro cortes de juros consecutivos nos últimos quatro meses.
O banco central poderá reconsiderar essa estratégia à luz da incerteza financeira, mas Erdogan vai exercer pressão política para manter os custos de empréstimos baixos para estimular o crescimento.
Seu governo representa politicamente bem posicionado para reprimir a dissidência em meio tensão económica elevada.

Uma sacola na América Latina

México já deu o primeiro passo em resposta ao stress da moeda. Seu ministro das Finanças anunciou um corte de gastos 31,7 bilhões de pesos ($ 1.670.000.000), que evitará a necessidade, um pouco, para aumentar o financiamento internacional para cobrir seu déficit orçamentário, grande como é, graças a baixos preços do petróleo e da produção cada vez menor.

O banco central mexicano, como os bancos de várias outras economias emergentes, pode ser forçado a cortar as taxas a curto prazo.
Mas a longo prazo, os riscos do México são muito mais limitadas. Sua participação no NAFTA dá-lhe a exposição relativamente baixa comércio para além do mercado norte-americano, e o Reino Unido vai ver NAFTA como uma oportunidade fundamental de livre comércio para complementar a União Europeia como um mercado consumidor.

A notícia da Brexit trouxe mais problemas para a Venezuela e seu presidente, Nicolas Maduro.
Quanto mais forte o dólar chega e os preços do petróleo mais ficar baixo, pior a dor em Maduro e o partido no poder.
China, também, pode reduzir os gastos na Venezuela: À frente de uma potencial recessão na Europa, a procura chinesa por petróleo pode diminuir ainda mais, pôr em causa o quão flexível Pequim será como um emprestador de última instância para a Venezuela.

Argentina e Brasil estarão em uma situação semelhante.
Ambos irão sofrer com a fuga de capitais, o que vai obrigar os seus governos a intervir no curto prazo.
A longo prazo, haverá uma oportunidade para o bloco comercial sul-americano Mercosul para negociar um acordo de livre comércio com o Reino Unido.
Mercosul parece estar pronto para facilitar fora do protecionismo que tem praticado no passado, e é um mercado secundário atraente, comparável a Europa Oriental, para as exportações britânicas.
A presidente argentina, Mauricio Macri podem ver isso como uma oportunidade, mas, embora o Reino Unido gostaria de um rastreamento rápido negociações de livre comércio exterior, a turbulência política no Brasil e políticas inibições na Argentina pode atrasar o processo.

Estratificação em crises em África

África do Sul imediatamente sentiu os efeitos da Brexit; o valor do rand Sul-Africano diminuiu 4 por cento em relação ao dólar.
Politicamente, as tensões no partido do governo da África do Sul, o Congresso Nacional da África, continuam a montar como preocupações a longo prazo de uma nova recessão potencial - juntamente com preocupações sobre o rand - só agravam as tensões na economia sul-Africano.
Quanto mais fraca a economia fica, os partidos de oposição mais tração ganham com os eleitores, aumentando a pressão sobre o presidente Jacob Zuma dentro do Congresso Nacional Africano.
Uma recordação precoce de Zuma se torna mais provável que o Brexit progride.

Nigéria, dependente como é em petróleo, também têm que lidar com a recuperação desaceleração dos preços do petróleo.
Mas, mais especificamente, a Brexit afectará Finanças nigeriana de duas maneiras.
Primeiro, ele irá expor o naira nigeriano a volatilidade da moeda, graças à decisão do presidente Muhammadu Buhari para finalmente flutuar.
Nigéria já conseguiu a situação, intervindo nos mercados de câmbio, apoiando-se o valor do naira - que, na verdade, aumentou 24 de junho - com a venda de dólares.
Mas esse tipo de política vem à custa das reservas já baixos do banco central, particularmente quando aplicado para fins sociais, como o financiamento do desenvolvimento ou fazer acordos com grupos militantes.
Além disso, o valor das remessas enviadas para casa de trabalhadores nigerianos no Reino Unido poderia ser afetado negativamente.
As remessas nigerianas do Reino Unido ultrapassou US $ 21 bilhões em 2015.
Esses desafios só vai ampliar as outras questões Nigéria enfrenta, incluindo a militância no Delta do Níger.

Índia reavalia

A votação Brexit terão resultados mistos para a Índia.
O Reino Unido, que abriga cerca de 1,4 milhões de indianos, é parceiro comercial 12ª maior da Índia.
Na verdade, ele é um dos apenas sete países com os quais a Índia tem um excedente de exportação, o que totaliza US $ 3,7 bilhões.
A esterlina caindo, portanto, poderia prejudicar esse excedente.
Ministério do Comércio da Índia, por outro lado, anunciou que o Brexit forçaria Índia para reavaliar o Acordo de Comércio e Investimento de base ampla, um acordo de comércio livre New Delhi lançado em 2007 com a União Europeia.
(O acordo ainda não foi implementado.)
Isso provavelmente vai criar o espaço para a Índia para negociar um acordo comercial separado com Londres.






























A Índia é o terceiro maior fonte de investimento directo estrangeiro do Reino Unido, com cerca de 800 empresas indianas que empregam 110.000 pessoas.
Estes incluem o vacilante Tata Steel, maior siderúrgica da Inglaterra, e Tata Motors, que detém a maior montadora da Inglaterra, Jaguar Land Rover.
Uma das razões Índia criadas bases no Reino Unido era o de garantir o acesso à União Europeia; se o Reino Unido já não faz parte dessa união, em seguida, suas empresas podem ter de repensar suas estratégias de negócios.

Além disso, um sexto das exportações de serviços de tecnologia da informação da Índia, no valor de quase US $ 19 bilhões, estão destinados para o Reino Unido.
Exigências de visto mais rígidas em uma Grã-Bretanha mais nacionalista pode conter o fluxo de profissionais de TI indianos.

Mas uma crise financeira em Londres também pode obrigar o Reino Unido a terceirizar mais de sua necessidades de TI, o que seria realmente beneficiar Índia.

Os próximos meses vão trazer mais volatilidade do mercado em todo o mundo como o significado da decisão da Grã-Bretanha para deixar as dissipadores da União Europeia em.
Mas os efeitos a longo prazo vai levar anos para avaliar - o Reino Unido provavelmente não vai sair da União Europeia até que depois de um longo processo de negociação e desembaraçar.

A questão permanece, no entanto, se Londres será capaz de obter a sua própria casa econômica em ordem e se o seu exemplo será uma inspiração - ou uma advertência - a outros estados membros da UE.

ANA FONSECA PEREIRA (Londres) 24/06/2016 - 22:01


David Cameron não resistiu à derrota no referendo britânico à UE. Boris Johnson, o senhor que se pode seguir, diz que “nada vai mudar no curto prazo”, mas líderes europeus discordam




O sismo, sentido através da Europa, aconteceu pouco antes das 5:00. 
A contagem de votos do referendo não deixava margem para dúvidas: 43 anos depois da adesão, a maioria dos eleitores britânicos decidiu que o Reino Unido deve sair da União Europeia, naquele que é o maior golpe infligido ao projecto europeu nascido das cinzas da II Guerra Mundial. 
O divórcio demorará anos a ser consumado, mas o referendo começou já a mudar a realidade política no país e na Europa e no horizonte pairam agora, com maior intensidade, ameaças de desagregação. 

A intensidade do abalo mediu-se nas declarações de “choque”, “desilusão” e “tristeza” que rapidamente se ouviram em todas as capitais europeias, fazendo antever que os líderes europeus podem não estar (ainda) em sintonia, mas sentem que têm de dar ao Reino Unido uma resposta que desincentive outros países a seguir-lhe o caminho. 
Mas foi nas praças europeias que os sismógrafos registaram maior oscilação – quando as televisões deram o resultado como certo, a libra tinha já atingido o seu valor mais baixo face ao dólar desde 1985, sofrendo a maior queda de que há registo. 
A cotação dos principais bancos caiu também a pique, num dia de transacções que começou com pânico e terminou com grandes perdas.

E não foi preciso esperar muito para confirmar uma das poucas certezas do dia – a de que Cameron não sobreviveria à pesada derrota que sofreu naquela que disse ser a luta da sua vida. 
Ao início da manhã, numa declaração à porta de Downing Street, o líder conservador anunciou a sua demissão – que não é imediata, mas que ele próprio espera ver concretizada antes da próxima convenção do partido, em Outubro. 
“O povo britânico decidiu de forma muito clara que quer seguir um caminho diferente e para isso o país precisa de uma nova liderança”, afirmou, com a voz incapaz de esconder a emoção”. 
“Farei tudo o que puder enquanto primeiro-ministro para manter este navio estável nas próximas semanas e nos próximos meses, mas não creio que seria correcto tentar ser o comandante que conduz o nosso país até ao próximo destino.”

Sem pressa

O que Bruxelas e todas as capitais europeias queriam saber era se Cameron iria cumprir a promessa de accionar o quanto antes o artigo 50 do Tratado de Lisboa. 
Só depois de Londres invocar esta cláusula até agora intocada serão desencadeadas as negociações formais para desatar os nós apertados que ligam o Reino Unido a Bruxelas e que, em teoria, devem estar concluídas no prazo de dois anos.

À UE interessa o mínimo de incerteza. 
Mas o líder conservador é, antes de mais, um pragmático e reconheceu que, desautorizado pelo voto de 17 milhões de britânicos (52% dos votos expressos) não podia ser ele a decidir sequer os moldes em que o difícil processo vai arrancar. 
“Deve ser o próximo primeiro-ministro a tomar essa decisão”, explicou.

O adiamento não agradou à maioria dos líderes europeus, mas em Londres a decisão é vista como inevitável – por um lado, dá à economia algum tempo para absorver o choque inicial da decisão; por outro, é agora evidente que os que fizeram campanha pelo “Brexit” não têm ainda um plano para concretizar a saída.

Na primeira comunicação oficial ao país, o antigo mayor de Londres, tido como o grande favorito à sucessão de Cameron, garantiu que “não há necessidade de apressar” os preparativos para a saída. 
Em tom solene, quase sombrio, Johnson tentou ao máximo tranquilizar aqueles que na manhã desta sexta-feira acordaram em choque para a nova realidade, assegurando que “nada vai mudar no curto prazo”.

Aos investidores disse que o Reino Unido “vai continuar a ser uma grande potência europeia”, que terá na política externa “uma voz equivalente à da quinta maior economia do mundo”. 
Aos jovens, assegurou que a saída da UE não lhes fechará as portas da Europa, e aos milhões de cidadãos comunitários que vivem no país fez saber que o Reino Unido “não vai virar as costas” ao continente ao qual pertence.

Fracturas e tensão

Mas a vitória do “Brexit” não foi só de Boris. 
Foi também (ou sobretudo) de Nigel Farage, o líder do partido antieuropeu UKIP, que empunhou sem remorso a bandeira da imigração para mobilizar os eleitores descontentes, os excluídos pela globalização e maltratados pelas convulsões da economia. 
“A UE está a falhar, a UE está a morrer”, declarou em tom triunfante, manhã cedo, frente ao Palácio de Westminster no qual tenta há anos entrar e onde o UKIP continua a ter apenas um deputado.

Selada a saída pela qual luta há mais de 20 anos, o líder populista não poupou na retórica – “Derrubámos o primeiro tijolo do muro, espero que este seja um primeiro passo para uma Europa de nações soberanas”. 
E, de dedo apontado ao Parlamento, avisou que o passo lento preferido por Boris e os seus aliados não é suficiente para o UKIP: “As pessoas aqui não percebem. 
São demasiado ricas, não percebem o que a imigração maciça que resulta da UE fez aos salários das pessoas, à capacidade delas para terem acesso a um médico ou porem os filhos nas escolas”.

No Partido Conservador, a saída de cena de Cameron – 11 anos depois de ter chegado à liderança dos tories com o desafio de enterrar a “velha obsessão europeia” – escancara a porta de Downing Street aos eurocépticos, a facção que depois de décadas em minoria sai coroada deste referendo. 
Johnson parte na frente, mas na corrida poderá também estar a actual ministra da Administração Interna, Theresa May, que apesar de se ter mantido ao lado de Cameron no referendo, observou durante toda a campanha um silêncio quase religioso.

Fica por perceber o que fará a facção pró-europeia do partido, ainda maioritária no Governo, e como conseguirá o novo líder unir um partido que travou a campanha em clima de guerra civil.

Não são, no entanto, só os tories que têm de reparar pontes destruídas. 
O referendo provou o que as últimas legislativas já tinham mostrado – o UKIP está a canibalizar o descontentamento dos eleitores nas regiões do Norte que foram durante décadas zonas seguras dos trabalhistas. 
Nestas regiões, dizem os analistas, o que mais pesa é o sentimento anti-imigração e a descrença na classe política. 
Mas para a oposição interna, que há muito duvida da capacidade de Jeremy Corbyn para ganhar eleições, o líder do partido chegou demasiado tarde à campanha e foi incapaz de defender a importância da UE junto de um eleitorado que teria sido decisivo para evitar o “Brexit”.

“Um líder tem de ser alguém que seja capaz de comunicar uma mensagem e inspirar confiança nessa mensagem. 
E Jeremy Corbyn falhou nas duas frentes”, disse à Sky News a deputada Ann Coffey, co-autora da primeira moção de desconfiança que o líder trabalhista enfrenta desde que foi eleito, há menos de um ano. 
O documento deverá ser discutido numa reunião do grupo parlamentar no início da próxima semana e, se vier a ser aprovado pelos deputados, desencadeará uma eleição interna. Corbyn, que nunca teve do seu lado a maioria da bancada parlamentar poderá sempre contar com o apoio do grosso dos militantes e dos sindicatos para ser reeleito.

Mas a instabilidade política desencadeada por este referendo não se resume a Londres, tanto mais que a votação mostrou fortes assimetrias regionais, com a capital, a Escócia e a Irlanda do Norte a votarem em sentido contrário ao da restante Inglaterra e País de Gales.

Ainda as palavras com que Boris Johnson quis tranquilizar os britânicos estavam frescas, quando a líder do governo autónomo escocês veio afirmar que o actual arranjo constitucional pode ser insustentável. 
A Escócia considera “democraticamente inaceitável” ser arrastada para fora da UE pelo voto inglês, afirmou Nicola Sturgeon, afirmando que “um [novo] referendo à independência é agora altamente provável”. 
Já antes, o Sinn Féin, o maior partido republicano da Irlanda do Norte, avisara que a saída da UE “intensifica o argumento a favor da unificação da Irlanda” – uma alusão que promete gerar calafrios juntos dos partidos unionistas com que partilha o governo em Belfast.
Brexit 
RAQUEL MARTINS 25/06/2016 - 11:11
Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países fundadores reúnem-se neste sábado em Berlim. França defende saída rápida, Alemanha cautelosa.
David Cameron, primeiro-ministro britânico, demitiu-se nesta sexta-feira BEN STANSALL/AFP

A pressão para que o Reino Unido acelere a saída da União Europeia (EU) adensa-se. 
O aviso mais claro chegou de Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, que ontem à noite garantiu que o processo não será um “divórcio amigável”.

“Não é um divórcio amigável, mas depois de tudo [o que aconteceu] também já não era uma relação muito romântica”, constatou Juncker em entrevista ao canal de televisão alemão ARD.

“Não percebo por que razão o governo britânico precisa de esperar até Outubro [data fixada por David Cameron para deixar a liderança do governo] para decidir se envia ou não a Bruxelas a carta a pedir o divórcio. 
Eu gostaria de a ter imediatamente”, insistiu.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou na sexta-feira a sua demissão, depois da vitória do “Brexit” no referendo, mas disse que só abandonaria o cargo em Outubro, deixando a saída da EU nas mãos do seu sucessor.

Posição semelhante tem o presidente do Parlamento Europeu, Martins Schulz, que considera “escandaloso que Cameron só deixe o cargo em Outubro, deixando o continente europeu “refém” dessa decisão.

Os apelos para que a saída do Reino Unido ocorra rapidamente chegam também do Banco Central Europeu. 
Francois Villeroy de Galhau, membro o conselho de governadores, defendeu que o processo deve ser conduzido de forma rápida, de modo a reduzir a incerteza.

França pressiona saída rápida, Alemanha cautelosa

Já neste sábado de manhã, a França instou os restantes parceiros europeus a fixar o quanto antes os termos da saída do Reino Unido, enquanto a Alemanha foi mais cautelosa, alertando que não se deve entrar em histeria. 
As declarações proferidas à entrada da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo – países fundadores da União Europeia -, que está a decorrer em Berlim.

Antes do encontro, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, garantiu que os seis membros fundadores da UE não estão disponíveis para abrir mão do projecto europeu e que é preciso estar atento às expectativas dos governos e do povo europeus. 
“Estou certo que a mensagem que estes Estados irão enviar é que não deixaremos ninguém pôr em causa o nosso projecto europeu de paz e estabilidade", disse Steinmeier, sublinhado que é preciso encontrar respostas urgentes para temas como os refugiados, a crise do emprego e a segurança.

Sobre a necessidade de o Reino Unido preparar a sua saída da UE rapidamente, o ministro alemão tentou pôr água na fervura, dizendo que em situações como a que se está a viver não se deve entrar em histeria, nem ficar paralisado.

“Estamos numa situação em que nem a histeria nem a paralisia são admissíveis. 
Não devemos tomar medidas precipitadas e fingir que temos todas as respostas. 
Mas também não devemos, após a decisão britânica, cair em depressão e na inacção”, afirmou.

Já o ministro francês Jean-Marc Ayrault apelou para que a UE fixe o quanto antes os termos para a saída britânica, com o argumento de que os restantes 27 estados-membros precisam de seguir em frente, antes que o populismo ganhe terreno e comprometa definitivamente o projecto europeu.

“É do interesse de todos que as negociações ocorram rapidamente”, disse Ayrault à entrada para a reunião.

Surpreendidos com o resultado, os líderes europeus têm agendadas várias reuniões para tentar definir os próximos passos. 
Também neste sábado, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, voa para França para se encontrar com o presidente francês François Hollande.

Na segunda-feira, a chanceler alemã Angela Merkel recebe Hollande, Renzi e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. 
No mesmo dia, mas em Bruxelas, os 28 comissários europeus, incluindo o comissário britânico Jonathan Hill (que tem a pasta da estabilidade financeira e dos mercados de capitais), têm agendado um encontro.








 Ana Suspiro e Margarida Peixoto 24-06-2016    BREXIT 
                                  









E agora? 
Quais são os custos e implicações do Brexit para Portugal? 
É uma pergunta para a qual ainda poucos arriscam uma resposta. 
A incerteza é enorme. 
A Europa ainda atravessa um primeiro momento de choque, de grande turbulência, tanto a nível político, como nos mercados financeiros. 
Ainda assim, vale a pena alinhar as principais áreas onde se podem esperar impactos em Portugal: emigração, exportações, turismo, investimento e relações com a Europa.

Emigrantes. Reino Unido é o principal destino

Um dos maiores impactos esperados será sentido na emigração. 
Nos anos de “chumbo” da aplicação do programa de resgate da troika, o Reino Unido passou ser o principal destino dos portugueses que deixaram o país à procura de emprego ou de uma valorização profissional que não encontram em Portugal.

Ninguém sabe, com certeza, como vão ficar estas pessoas. 
Contudo, a diminuição do potencial de criação de empregos no país será uma das consequências de uma queda de produto interno bruto (PIB) e da atividade económica, como nota Muradali Ibrahimo, professor do ISEG, numa análise aos efeitos do resultado do referendo. 
Outro professor do ISEG, António Afonso, antecipa “uma menor facilidade de circulação de mão-de-obra entre Portugal e o Reino Unido”.

Uma das marcas desse novo fluxo migratório é o elevado nível de qualificações profissionais dos que procuram o mercado britânico, destaca o mais recente relatório do Observatório das Emigrações, de 2015, mas cujos dados são de 2014: “O Reino Unido é hoje o primeiro país de destino da emigração portuguesa. 
Trata-se de um fluxo com características novas, nomeadamente por incluir uma elevada percentagem de ativos com qualificações superiores”.

E esta é uma das áreas onde se teme um maior impacto, conforme ficou, aliás, visível nas reações dos responsáveis políticos portugueses. 
Fica aqui um testemunho do desapontamento e a frustração dos portugueses que trabalham no Reino Unido.





















O documento do Observatório aponta, ainda, alguns traços do perfil do emigrante português: É homem (55%), tem entre 25 e 34 anos (35%), está em Londres (46%), tem um curso superior — o Reino Unido é o destino em que é maior proporção de portugueses qualificados — e há alguma probabilidade de ser enfermeiro. 
O afluxo de profissionais desta área é de tal forma intenso que justificou uma análise do fenómeno.

Todos os anos são formados em Portugal entre 3.000 a 3.500 enfermeiros e cerca um de terço — o correspondente a 1.200 — começou a trabalhar no Reino Unido em 2013. 
Um inquérito conduzido por um enfermeiro, Nuno Pinto, via Facebook, a que responderam cerca de 350 profissionais a residir no país, mostrou que mais de metade não tencionava regressar a Portugal antes da reforma. 
Segundo dados de 2014 da organização equivalente à Ordem dos Enfermeiros, a Nursing and Midwifery Council, estavam inscritos 3.155 profissionais portugueses.

Em 2014, o Reino Unido atraiu cerca de 31 mil portugueses. 
Em 2013 foram 30 mil. 
O número de novos emigrados no país da libra ultrapassou, já, destinos mais tradicionais como a França, a Suíça ou a Alemanha. 
O número de residentes portugueses no país era de 136 mil, um pouco mais do que na Alemanha, mas ainda bastante menos do que em França, cerca de meio milhão, e Suíça — 253 mil, segundo dados ainda 2014.

O número de nacionais registados nos consulados ingleses era contudo mais significativo, quase 300.000 em 2014, o terceiro maior na Europa a seguir a França e Suíça e o quarto a nível mundial depois destes dois países e do Brasil. 
A distância para alguns destinos clássicos de emigração ainda é mais expressiva quando se analisam as remessas enviadas para Portugal. 
Do Reino Unido foram transferidos cerca de 202 milhões de euros num total de três mil milhões de euros em 2014. 
Estes valores colocam os emigrantes no Reino Unido no quarto lugar do ranking das remessas dos emigrantes, atrás de França, Suíça e Angola.

E os ingleses em Portugal? 
O número de residentes ingleses era de 17.230, num universo de 388.731 estrangeiros que residiam no ano passado em Portugal, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. 
Ainda assim, os ingleses são a terceira comunidade europeia mais numerosa a seguir aos romenos e aos ucranianos.

Turismo nervoso. Mais de 20% dos turistas são britânicos

Os ingleses ainda são os principais visitantes estrangeiros em Portugal e este é um dos setores onde mais se teme os efeitos do Brexit. 
Em 2014 e 2015, mais de 20% dos turistas que dormiram em Portugal tinha nacionalidade britânica, uma percentagem que sobe para 30% na região do Algarve. 
Só no ano passado, houve mais de oito milhões de dormidas de residentes britânicos. Este número está muito acima dos turistas alemães que dormiram em Portugal no ano passado, 4,8 milhões, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), e mais do dobro dos franceses e dos espanhóis que visitaram Portugal em 2015.

Apesar de serem os que mais visitam território lusitano, os ingleses estão entre os que têm gastos médios diários mais baixos. 
Segundo um levantamento realizado pelo INE, o turista médio britânico gastou 91,5 euros por dia, em média, soma que ficou abaixo do valor médio que se verificou entre os não residentes e que foi na ordem dos 104 euros por dia.

Ainda assim, no imediato, a saída do Reino Unido “não terá consequências relevantes”, defende João Loureiro, professor da Faculdade de Economia do Porto. 
“Quem viajava para Portugal continuará a vir, não é porque o Reino Unido está num processo de saída que deixam de vir”, antecipa. 
“A menos que haja uma recessão grave no Reino Unido e a libra se desvalorize muito”, ressalva.

Se este cenário se concretizar, o turismo sofrerá com a quebra do poder de compra dos ingleses, já que o euro também perdeu valor, embora menos,

Exportações. Uma área sob pressão

As empresas exportadoras poderão estar entre os agentes económicos mais afetados pelo Brexit. 
Não só o Reino Unido é um dos principais mercados internacionais — logo, uma queda da economia e do poder de compra, acentuada pela desvalorização da libra face ao euro, castiga as empresas portuguesas — mas também porque se antecipa o regresso de taxas alfandegárias aos produtos destinados ao mercado britânico que tenham origem na União Europeia.

Esta ameaça é realçada por António Afonso, professor do ISEG. 
“Para Portugal, o efeito poderá ser sentido ao nível das trocas comerciais, as quais poderão sofrer alguma redução com uma imposição de tarifas à importação por parte do Reino Unido”. 
A saída da UE implica, também, o abandono da união aduaneira.

No entanto, há a expectativa de que venha a ser negociado um acordo de comércio livre com a União Europeia que permita suavizar o impacto económico do Brexit para as duas partes. 
E, mais importante do que as taxas alfandegárias, é a compatibilidade ao nível das especificações técnicas e exigências ambientais dos bens transacionados.

O mercado britânico absorveu, em 2015, 6,7% das exportações portuguesas de bens, uma quota que tem vindo a crescer de forma sustentada desde, pelo menos, 2011. 
No passado, as vendas para o Reino Unido representaram 3.350 milhões de euros e o saldo era claramente positivo para Portugal. 
Máquinas e aparelhos, veículos automóveis e materiais de transporte, vestuário e calçado e bens alimentares estão entre as principais exportações portuguesas para o país da libra.

O Reino Unido é o quarto mercado mais importante para as empresas portuguesas e, em 2015 as exportações de bens e serviços para este país ultrapassaram sete mil milhões de euros.

Os britânicos são, ainda, investidores em Portugal. 
No ano passado, até foram o segundo país de origem que mais investiu em Portugal, com cerca de 582 milhões de euros, embora os dados do Aicep, a partir das estatísticas do Banco de Portugal, contabilizem a entrada de recursos pelos países onde as empresas têm a sua sede, o que inflaciona dados de geografias fiscalmente favoráveis, como o Luxemburgo, que surge como o maior investidor em Portugal em 2015.

Dados do UK Trade and Investment, que corresponde ao Aicep britânico, revelam, ainda, que há 100 empresas britânicas a investir em Portugal. 
Os principais investimentos do Reino Unido centram-se nos setores do têxtil e do vinho, a norte do país, e no imobiliário e turismo, a sul. 
A presença das empresas inglesas tem ainda importância no setor da energia, com a petrolífera BP, a única multinacional do setor que ainda está em Portugal, e a International Power, acionista das sociedades que exploram centrais elétricas, Tubogás e Tejo Energia.

Impacto negativo será mais indireto, relações bilaterais fortes

“Fui deitar-me com o Reino Unido dentro da União Europeia e acordei com o Reino Unido fora “, testemunha António Comprido, o presidente da Câmara de Comércio Luso-britânica. Apesar de ter sido “uma grande surpresa para todos,” António Comprido acredita que o impacto será mais indireto do que direto. 
Portugal pode sofrer os efeitos de uma crise económica na Europa e no Reino Unido, mas as relações comerciais entre os dois países vão continuar a ser fortes. 
“Ao nível da câmara de comércio, não esperamos um grande impacto no comércio bilateral”, diz ao Observador.

O principal efeito, acrescenta, será a incerteza sobre o tempo e os aspetos concretos do processo de saída e isso pode ser um travão ao desenvolvimento de projetos novos e investimentos já decididos. 
“É um fenómeno novo”. 
A dimensão do impacto vai depender muito da forma e do tempo que demorar a concretizar a saída e das modalidades que serão adotadas pela União Europeia para se relacionar com o Reino Unido. 
Será seguida uma solução comparável à que existe em relação à Noruega e à Suíça, “que têm um pé dentro e outro fora?”

António Saraiva, presidente da CIP, Confederação Empresarial de Portugal, contou ao Observador que está a contactar todos os seus associados para perceber quais são os setores de atividade que poderão estar mais expostos ao Reino Unido. 
Por enquanto, não se arrisca a identificar nenhum. 
Da mesma forma que ninguém se atreve a fazer contas enquanto não se conhecerem as condições efetivas de saída e o modelo que irá definir as futuras relações entre o bloco europeu e o Reino Unido.

É pela relevância das relações comerciais que Paulo Sande, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, lembra que, independentemente de se reafirmar europeísta de forma “assertiva”, o Governo português “tem de cuidar a sua relação com o Reino Unido”.

Europa tem de mudar, mas não pode começar de novo

A saída do Reino Unido terá, necessariamente, de ter impacto na política europeia e, por consequência, nas relações entre Portugal e a Europa. 
“Se não houver mudanças, as coisas não ficam na mesma, ficam piores”, garante Paulo Sande. 
“Não é possível abdicar das principais linhas políticas europeias”, garante.

Ou seja, Portugal não pode agora esperar que, de repente, a Europa passe a ser muito mais tolerante, ou que mude os limites previstos para o défice e a dívida, que tanto têm animado o debate sobre as sanções. 
“As regras fundamentais da União Económica e Monetária, da convergência, da solidariedade, as exigências orçamentais não podem mudar de um dia para o outro”, alerta o ex-diretor do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal.

Mas a Europa pode aproveitar o choque para tomar decisões. 
“Os 27 países, e principalmente os 19 do euro, têm a oportunidade de se defenderem tomando medidas de reforço da união”, adianta João Cerejeira, professor na Faculdade de Economia do Porto. 
Uma hipótese seria, por exemplo, tomar decisões sobre a dívida grega, aliviando o fardo daquele Estado-membro e mostrando solidariedade.

Consoante este caminho seja, ou não, seguido, assim serão os impactos para Portugal e para a sua relação com a Europa. 
É que “o risco de desmantelamento é um grande risco”, sublinha o economista. 
“O Governo português tem de ser assertivo na União Europeia”, corrobora Paulo Sande. Mas também tem de “cuidar a sua relação com o Reino Unido”, soma.

Para Miguel Monjardino, professor de geopolítica do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, a relação de Portugal com a Europa fica num dilema profundo: desde logo, a Alemanha perde um dos seus aliados pró austeridade. 
Mas há mais. 
“A lógica da União Europeia e da sua atual geografia ditaria que as regras teriam de ser reinterpretadas para favorecer agora a periferia. 
Mas, para as economias credoras, o incentivo económico é o contrário”, explica. 
Ou seja, os interesses políticos e económicos não estão alinhados.


Ativos financeiros. Em busca do porto seguro

“A nível de mercados financeiros, aquilo a que estamos a assistir é a uma fuga dos ativos com risco — ações, dívida de países periféricos, empresas com ativos no Reino Unido, empresas muito endividadas — para outros ativos mais seguros — a dívida alemã, o ouro, o dólar, o iene”, antecipa João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa, ao Observador.

Este movimento interfere diretamente com Portugal, que está no grupo dos periféricos e endividados. 
Os juros da dívida pública portuguesa refletiram a decisão, tendo-se agravado mais de 32 pontos base na sequência da notícia, ao mesmo tempo que os da Alemanha caíram quase 17.

Pior: “esta é uma notícia com impacto diferente do que se verifica quando há ataques terroristas, é mais duradoura”, garante. 
Daí que o especialista coloque agora completamente de parte a hipótese de o Governo cumprir a meta de crescimento do PIB (produto interno bruto), inscrita no Orçamento do Estado para 2016, de 1,8%. 
“É, neste momento, uma miragem”, assegura.

“Lamentamos profundamente a decisão do Reino Unido de saída da União Europeia, veredicto que não poderia deixar de provocar forte volatilidade nos mercados financeiros, entre outros possíveis impactos”, reagiu a Associação Portuguesa de Bancos (APB).


“Os próximos tempos serão de inevitável ajustamento, tendo em conta que se trata de um contexto sem precedentes”, assume o lobby da banca portuguesa, apesar de garantir que os bancos se prepararam, “naturalmente”, para esta contingência. 
“O setor continuará a assegurar a prestação aos seus clientes, particulares e empresas, de todos os serviços com normalidade”, assegura a APB.