terça-feira, 19 de julho de 2016

FMI cita Portugal e Itália como riscos globais por causa da banca

FMI 
Luís Reis Ribeiro
19.07.2016 / 14:00

Christine Lagarde. Foto: REUTERS/Leonhard Foeger

"Brexit ocorre enquanto há heranças não resolvidas no sistema bancário europeu, em particular nos bancos italianos e portugueses"

O sistema bancário europeu, “em particular a banca italiana e portuguesa”, representa um risco global que se tornou “mais saliente” nos últimos tempos, assinala o Fundo Monetário Internacional, na atualização de verão ao panorama (outlook) económico mundial, divulgada nesta terça-feira a partir de Washington. 

A referência a Itália não surpreende, dada a grande dimensão da banca do país; já a menção a Portugal é inédita neste tipo de atualização ao outlook. 
E surpreende, tendo em conta o tamanho do sector. 
Claro que a análise do FMI é feita na perspetiva de que os bancos estão todos interligados e que há riscos de contágio além fronteiras, inclusive ao nível da confiança no sistema. 

Nos últimos meses, “outros riscos tornaram-se mais salientes”, diz o FMI na análise aos riscos para o outlook. 
“O choque da Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia] ocorre enquanto há heranças não resolvidas no sistema bancário europeu, em particular nos bancos italianos e portugueses, conforme identificado no Relatório de Estabilidade Financeira Global”, no passado mês de abril. 

O FMI estará a referir-se aos níveis demasiado elevados de crédito em incumprimento, sobretudo no segmento das empresas. 

O Dinheiro Vivo perguntou ao FMI a que “heranças” em concreto se está a referir no caso português, mas não obteve resposta. 

A instituição avisa também que “a turbulência financeira de mercado e o aumento da aversão global ao risco pode ter repercussões macroeconómicas graves, nomeadamente por via da intensificação de stresses bancários, especialmente nas economias vulneráveis.” 

O FMI repara que o problema Brexit “ainda se está a desenrolar” e que há uma probabilidade assinalável crescente de o cenário de base, agora mais desfavorável, vir a piorar. 
A crise da banca italiana tem marcado os últimos meses, com as autoridades europeias a tentarem arranjar forma de resolver a situação e de conter o impacto nas contas públicas. Em Portugal, depois do colapso do Banif, surgiram mais dois dossiers para resolver. 
A capitalização da CGD e o impasse na venda do Novo Banco (NB). 
Ontem, o governo disse mesmo que se o NB não for vendido até agosto de 2017 está a ponderar “liquidar de forma ordenada” o banco. 

China e emergentes 

Além disso, continua o FMI, “a dependência face ao crédito como fator de crescimento aumenta o risco de uma eventual disrupção do ajustamento na China” e “muitos exportadores de matérias primas ainda enfrentam uma necessidade de ajustamento orçamental considerável”. 

Assim, “as economias dos mercados emergentes precisam, de forma mais ampla, de estar alerta em relação aos riscos de estabilidade financeira”. 

Há riscos financeiros e económicos, mas os riscos políticos também são mencionados pelo Fundo. 
“Os riscos de origem não económica também continuam salientes”. 
“As divisões políticas no seio das economias avançadas podem prejudicar os esforços para resolver os desafios estruturais de longa data e o problema dos refugiados”. “Mudanças no sentido de políticas protecionistas são uma ameaça distinta” adicional, sublinha a instituição sedeada em Washington. 

(Atualizado às 17h00)

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