20/07/2016 - 08:35
A nova primeira-ministra britânica chega a Berlim para criar boas relações com a chanceler alemã. São estas duas hábeis e duras negociadoras que vão definir os termos da saída do Reino Unido da UE.
São ambas filhas de pastores protestantes que se distinguiram como académicas antes de ascenderem na hierarquia de partidos conservadores.
Agora, Theresa May e Angela Merkel, duas mulheres duras e pragmáticas, estarão pela primeira vez frente-a-frente para determinar o futuro da relação entre o Reino Unido e a União Europeia.
May chega esta quarta-feira a Berlim para a sua primeira visita oficial desde que ocupou o lugar de primeira-ministra, há exactamente uma semana.
Downing Street, numa nota, esclareceu que vai criar bases para uma boa relação futura, mas este será também o primeiro contacto na preparação da saída do seu país da UE, conforme ficou decidido no referendo de 23 de Junho.
Segue na quinta-feira à noite para Paris, onde reunirá com o Presidente, François Hollande.
A notícia de que May - dois anos mais jovem do que a chanceler alemã - seria a nova primeira-ministra britânica foi muito bem recebida pelos altos funcionários europeus.
"Muito disciplinada" foi como uma fonte alemã que com ela trabalhou descreve esta mulher educada em Oxford cujo pai era pastor da Igreja de Inglaterra.
Uma fonte em Paris disse que ela tem uma "excelente" relação com o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve.
May, que aos 59 anos é considerada uma conservadora veterana, vai precisar de capitalizar toda essa boa imagem que a Europa tem dela.
A sua função é gerir a negociação fazendo frente à frieza igualmente pragmática de Merkel, que nos seus dez anos como chanceler contrariou muitos líderes europeus nas longas reuniões em Bruxelas.
Segundo o Tratado de Lisboa, a negociação da saída do Reino Unido é da responsabilidade do Conselho Europeu, que agrega os líderes dos outros 27 Estados-membros.
Porém, o papel de Merkel é crucial.
Mal os britânicos aprovaram o "Brexit", Angela Merkel reuniu com os dirigentes francês e italiano para planear o caminho futuro da UE, deixando bem claro que são os Estados com mais peso na Europa, não as instituições, que determinarão esse caminho.
As duas mulheres derrubaram candidatos homens no seu percurso até ao topo.
Merkel venceu o seu exuberante antecessor, o social democrata Gerhard Schroeder, nas eleições de 2005.
May, que era há seis anos ministra do Interior, chegou à chefia do Governo ao ser eleita líder do seu partido.
A mulher que se definiu dizendo que não gosta da política de espectáculo, substituiu um primeiro-ministro muito menos cauteloso, David Cameron, que perdeu o lugar ao ser derrotado no jogo que ele próprio começou do referendo do "Brexit".
O que ambas querem
Merkel e May concordam numa coisa: "‘Brexit’ significa ‘Brexit’".
Merkel também disse que o resultado do referendo é uma decisão, não um conselho, que deve ser respeitada.
Agora, as linhas de batalha começam a ser traçadas.
May diz que não vai apressar o pedido formal de divórcio.
Merkel quer que o Reino Unido clarifique rapidamente as suas intenções.
"Temos que esperar que o Reino Unido diga que relação quer ter com a União Europeia e a partir daí começaremos, de acordo com os nossos interesses, a melhor negociação para os cidadão dos 27 países", disse Merkel.
A chanceler quer manter os laços com o Reino Unido, o quinto maior parceiro de negócios da Alemanha, mas a sua maior prioridade é manter unidos os restantes países da UE.
Diplomatas britânicos que trabalharam com May em Bruxelas têm-na em elevada consideração, dizem que era uma das ministras mais bem preparadas nas negociações.
Os outros europeus concordam.
"Ela conhece bem Bruxelas, conhece as pessoas e sabe como as coisas funcionam", disse um representante europeu que trabalha com temas de justiça e de segurança interna. "Chegou sempre bem preparada às reuniões, onde era activa, interveniente e conhecedora dos dossiers".
Outra fonte que conhece as negociações em que May participou descreve-a como "muito profissional, muito respeitada".
Tudo indica que Theresa May será uma negociadora dura.
"Não será uma parceira fácil para a UE", disse uma fonte, acrescentando que May não muda de tom facilmente.
"Sempre foi muito consistente, muito persistente".
A primeira-ministra britânica fez uma campanha discreta pela permanência do Reino Unido na UE.
O seu maior desafio agora é garantir o acesso do país ao mercado único ao mesmo tempo que fecha a porta à imigração oriunda do bloco europeu.
Os líderes europeus dizem que o acesso ao mercado só pode ser feito com o compromisso da livre circulação de pessoas — exactamente o que os eleitores britânicos rejeitaram.
May tem um bom currículo no capítulo de compromissos arrancados à UE em situações de branco ou preto.
"Enquanto ministra do Interior, participou sempre nas negociações, não deixava esse trabalho para os funcionários... tem obviamente boas capacidades de negociadora", diz uma fonte.
São essas capacidades que vão ser testadas frente a Merkel.
A chanceler alemã sabe quem tem pela frente.
Foi a própria Merkel quem disse: "Teremos negociações difíceis com Reino Unido, não vai ser fácil."
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