De visita à Irlanda do Norte, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que a reposição dos controlos alfandegários e o encerramento da fronteira com a República da Irlanda não é desejável – nem é inevitável na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia.
“Fomos capazes de estabelecer uma área de livre circulação entre a Grã-Bretanha e a Irlanda muitos anos antes de qualquer um destes países fazer parte da UE, e penso que ninguém deseja voltar ao passado”, sublinhou a líder conservadora, que prometeu encontrar uma “solução prática” para evitar o regresso das barreiras e dos check-points.
Apesar de reconhecer as “circunstâncias particulares” do caso irlandês, onde existe uma fronteira terrestre com outro país, a primeira-ministra manifestou a sua confiança na capacidade de “encontrar uma solução prática e que funcione para todos”, no quadro das negociações do “Brexit”.
“O nosso princípio é de que a saída do Reino Unido da UE será um sucesso, e o acordo que será alcançado será o que melhor serve os interesses de todo o Reino Unido”, reforçou.
É uma nova convicção, e que contrasta com aquela que tinha antes do referendo de Junho, quando alertou para as consequências do “Brexit”: “É inconcebível que as actuais condições na fronteira permaneçam inalteradas”, disse na altura.
Mas agora, aparentemente, May acredita que o acordo assinado no início do século XX, que consagra a liberdade de movimentos numa “área comum” correspondente ao território de toda a ilha, será suficiente para garantir que a fronteira se mantém aberta às pessoas e ao comércio após a saída da UE.
Na Irlanda do Norte, como na Escócia, a permanência na UE saiu vencedora, com 56% dos votos.
E se em Edimburgo, o resultado levantou o espectro da independência do Reino Unido, em Belfast renovou o interesse num eventual referendo para a reunificação com a República da Irlanda – uma possibilidade que a primeira-ministra, Arlene Foster, do Partido Democrático Unionista, se encarregou de descartar e que o seu vice, Martin McGuinness, do Sinn Fein, se esforçou por promover.
Tal como prometera à Escócia, Theresa May garantiu que o governo autónomo de Belfast terá uma palavra a dizer na definição da estratégia negocial de Londres, antes de ser invocada a cláusula 50 do Tratado de Lisboa que põe em marcha o processo de separação da UE.
“Uma boa notícia”, considerou Foster, que se disse pronta para participar nas discussões.
“Não há nada de bom no ‘Brexit’”, contrapôs McGuinness, que lembrou que os eleitores da Irlanda do Norte, “unionistas, nacionalistas e republicanos deixaram muito claro que querem que o seu futuro seja na Europa”.
Em Edimburgo, a primeira-ministra, Nicola Sturgeon, confirmou esta segunda-feira que já foram dados os primeiros passos concretos para que a decisão dos escoceses no referendo seja respeitada, o que pode implicar a separação do resto do Reino Unido. A líder do partido nacionalista falava sobre as futuras negociações do “Brexit”, que na sua opinião terá consequências bastante mais duras do que aquelas que Downing Street pretende admitir, nomeadamente em termos de acesso ao mercado único ou à liberdade de movimentos na Europa.
Sturgeon duvida que os termos para a saída da UE negociados por Londres correspondam aos interesses da Escócia – que votou esmagadoramente para manter a ligação ao clube europeu – e insiste em explorar a hipótese de um novo referendo para a independência.
"Se constatarmos que os nossos interesses não podem ser protegidos no contexto do Reino Unido, essa tem de ser uma das opções a considerar.
Por isso, decidimos arrancar com todo o trabalho preparatório [para a realização de um novo referendo]”, anunciou, sem elaborar em que consiste esse trabalho.
“A perspectiva para o Reino Unido é de incerteza, agitação e imprevisibilidade.
Nestas circunstâncias, a independência pode ser a opção que nos oferece maior estabilidade e máximo controlo pelo nosso destino”, considerou.
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