sábado, 9 de maio de 2015

Dez pregos no caixão do nazismo

A bandeira vermelha com a foice e o martelo flutua sobre as ruínas de Berlim em Maio de 1945


























RUI CARDOSO

08.05.201519
Faz hoje 70 anos, rendiam-se as tropas alemãs. Terminavam as hostilidades na Europa mas, no Pacífico, a II Guerra Mundial iria continuar até Agosto. Dez pontos-chave para entender o que foram os últimos dias do regime nazi.

1. Dia da Vitória 
Ainda que os soviéticos tivessem conquistado Berlim a 2 de maio e que o contingente alemão na Holanda já tivesse deposto as armas a 28 de abril, a rendição só foi assinado a 7 de maio de 1945 pelo general Alfred Jodl, em nome do Governo alemão. 
As hostilidades deveriam cessar até à meia-noite do dia seguinte e o acordo só deveria ser divulgado a 9. 
No entanto, correspondentes de guerra ocidentais deram a notícia dia 8, seguindo-se festejos em massa nos países aliados. 
Na URSS mantiveram-se as celebrações para a data combinada, pelo que o feriado do Dia da Vitória na Europa (França, Reino Unido, etc) ficou a dia 8, enquanto ainda hoje na Rússia se celebra o fim da Grande Guerra Patriótica no dia seguinte.

Aviões soviéticos de ataque ao solo Ilyushin Il-2 Sturmovik sobrevoam Berlim em abril de 1945

2. Desorientação 
É num ambiente de Götterdämmerung (crepúsculo dos deuses) wagneriano que se dá a queda da Alemanha nazi. 
Reina o que hoje chamaríamos má gestão: Hitler e o seu estado-maior não sabem se hão de usar um caça a jato revolucionário do qual foram construídos 1400 exemplares para intercetar os bombardeiros aliados ou como avião de ataque ao solo; a 5 de março 600 tanques, incluindo os temíveis Tigre II, abrem uma brecha de 30 km nas planícies húngaras, mas no dia seguinte acaba-se-lhes a gasolina, são abandonados pelas tripulações e os soviéticos ficam com o caminho aberto para Budapeste, Praga e Viena.


3. Conspiração 
A iminência da derrota abre brechas ao mais alto nível na cúpula nazi. 
A 29 de abril, Hitler, depois de se casar com Eva Braun no “bunker” da chancelaria, manda prender o ministro do Interior, Himmler, e demite o ministro da Aviação, Goering, ambos por traição, ou seja por tentarem negociar a paz com os anglo-americanos. Nenhuma destas ordens teve efeito prático e no dia seguinte Hitler, Goebbels e respetivas famílias suicidar-se-ão. 
Na véspera, Mussolini e Claretta Petacci tinham sido presos e mortos por guerrilheiros no norte da Itália.

4. Bunker 
A obsessão de Hitler pelas instalações monumentais remonta aos primeiros dias da II Guerra Mundial. 
Para acompanhar a invasão da URSS mandara construir um complexo de 80 edifícios, a Wolfsschanze (Cova do Lobo) em Rastenburg (Prússia Oriental, hoje Polónia). Abandonadas estas instalações em novembro de 1944 perante o avanço soviético, Hitler passou a usar o “bunker” berlinense construído junto à Chancelaria (também pesadamente fortificada). 
As instalações eram auto-suficientes (30 salas, dois pisos) e à prova de bomba (cinco metros de profundidade, quatro metros de betão) mas isolavam, ainda mais, o Fuhrer da realidade. 
A sua última aparição pública será a 20 de abril.

5. Pontes do Reno 
Nada ilustra melhor o colapso da máquina de guerra nazi que o episódio das pontes sobre o Reno. 
Todas tinham sido mandadas demolir, mas a 7 de março soldados americanos descobrem uma ponte ferroviária intacta em Remagen, conquistam-na e entrincheiram-se na margem direita do rio, repelindo todos os contra-ataques, que incluíram disparos de mísseis balísticos V2. 
De surpresa ou sob cobertura aérea, os aliados não tardarão a passar o rio em dezenas de locais, passando a dominar 320 km da margem oriental do Reno a 31 de março.


6. Bandeiras brancas 
Apesar da ordem para resistir e dos fuzilamentos para dar o exemplo, a partir de 11 de abril, quando o IX Exército britânico chega ao rio Elba e a Magdeburgo, multiplicam-se casos de cidades alemãs que se rendem sem luta. 
Só os regimentos fanatizados das SS continuam a combater até à morte.…
























Prisioneiros de Auschwitz, campo libertado pelos soviéticos em fevereiro de 1945

7. Campos de morte 
Os soviéticos já tinham libertado Auschwitz, na Polónia, no princípio do ano, mas para os soldados anglo-americanos chega a hora da descoberta do lado mais negro do nazismo: os campos de extermínio. 
A 15 de abril a II Divisão Blindada britânica chega a Bergen-Belsen, campo de concentração perto de Hannover. 
Nas valas comuns descobre 40 mil cadáveres. ~
Dos 38 mil prisioneiros libertados, 28 mil morreriam nos dias seguintes por estarem irremediavelmente enfraquecidos pela fome e doença.

8. Corrida entre aliados 
A tomada das travessias do Reno põe Berlim ao alcance dos anglo-americanos mas a 14 de abril o supremo comandante Eisenhower, para desespero dos britânicos, declara que a prioridade não é tomar a capital, mas sim consolidar os flancos norte (Dinamarca e Noruega) e sul (Áustria e Baviera). 
Para Estaline fica o objetivo mais simbólico da guerra: Berlim. 
Entretanto, receando represálias soviéticas, gera-se um movimento de rendição em massa de tropas alemãs aos anglo-americanos.

9. Potsdam 
Em Ialta, a 11 de fevereiro, os aliados tinham acordado a estratégia do assalto final à Alemanha nazi e a arquitetura da Europa do pós-guerra. 
Atingido este objetivo, voltarão a reunir-se a 17 de julho, em Potsdam, para concertar o cerco ao Japão (que se renderá em setembro, após os ataque nucleares de Hiroshima e Nagasaki). 
Estaline é o único sobrevivente do encontro anterior, já que Truman substitui Roosevelt, falecido a 12 de abril, e Atlee subtitui Churchill, derrotado nas eleições de julho.

10. Armas inúteis 
No final da guerra os alemães têm caças a jato (ME 262) mas não os suficientes para recuperar a superioridade aérea. 
Inventam a primeira espingarda de assalto, a Sig 44, conciliando a precisão de uma espingarda com o poder de fogo de uma pistola-metralhadora e na qual Kalashnikov se inspirará para criar a AK-47. 
Contudo, só algumas unidades a receberão. 
Têm mísseis de cruzeiro (V1) e mísseis balísticos (V2) mas já quase não há rampas para os lançar nem sistemas de pontaria. 
Tanques como o Tigre II têm mais blindagem e poder de fogo que qualquer concorrência aliada mas são poucos, e já não há combustível para os abastecer. 
Para estas e muitas outras armas surgidas durante o crepúsculo nazi aplica-se o aforismo: muito poucas e muito tarde…





















































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